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Foto do escritorAdriana Ferreira

Resenha do Livro: Hamnet, de Maggie O’Farrell

Atualizado: 5 de abr.

Uma história surpreendente sobre família, amor, doença e luto na vida do dramaturgo criador de Hamlet.

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Resenha do Livro: Hamnet, de Maggie O’Farrell, com tradução de Regina Lyra, publicado em 2023, pelo Clube Intrínsecos da editora Intrínseca.



Recebi esse livro, numa compra pontual de um kit do extinto clube Intrínsecos. Não fazia ideia do que a história se tratava, comprei o kit para conhecer o clube — mal sabia que estava fazendo isso pouco tempo antes dele acabar.


Enfim, o livro era Hamnet, de Maggie O’Farrell, logo lembrei de Hamlet, de Shakespeare e a surpresa maior foi descobrir a verdadeira conexão entre as obras.


A descoberta de Hamnet

Maggie O’Farrell, premiada escritora britânica, já havia publicado oito livros quando, em 2020, lançou Hamnet. Mas, o interesse pelo personagem nasceu na época da escola, quando estudou Hamlet.


Na época, descobriu que a peça de maior sucesso do poeta e dramaturgo, William Shakespeare, teve seu nome inspirado — ou quase homônimo — em seu filho, Hamnet, que faleceu aos onze anos de peste bubônica.


Impactada pela descoberta - pouco divulgada sobre o famoso escritor - e curiosa em conhecer mais sobre o contexto dessa perda, Maggie iniciou suas pesquisas. As poucas informações disponíveis sobre a vida pessoal de Shakespeare, dificultam os estudos, mas o pouco que encontrou a intrigou.


Shakespeare era filho de um luveiro, conheceu uma mulher mais velha - ela tinha 26 e ele 18 - ela engravida e eles apressam o casamento. Com as novas responsabilidades e a chegada da primeira filha, ele saiu da pequena cidade de Stratford-upon-Avon, na Inglaterra, e vai para Londres na busca de trabalho e melhores condições de vida.


Lá, começa a trabalhar como ator, escreve e monta suas próprias peças e constrói todo o sucesso que conhecemos. Seu casamento, dura 34 anos, além da primogênita, Susanna, anos depois o casal tem os gêmeos, Judith e Hamnet. O pai permaneceu à distância, visitando pontualmente a família, sempre mandando dinheiro, cartas e assim que foi possível comprar uma casa melhor para a família, mas os mantendo em Stratford.


Rumores sobre sua biografia, trata de que Shakespeare não queria o casamento, por isso sempre ficou distante e mesmo quando teve oportunidade não levou a família para perto de si, em Londres. Os fatos de sua esposa ser mais velha, de família humilde e com comportamentos excêntricos para a época, eram suficientes para os biógrafos retratarem a união dos dois como um casamento de interesse.


“Fomos alimentados com a ideia de que Agnes era uma prostituta camponesa ignorante que ganhou um menino genial para se casar, que a odiava e precisou fugir para Londres a fim de escapar dela.” Maggie O’Farrell

O protagonismo de Anne ou Agnes Shakespeare

Devido a divergências em seus registros, a Sra. Shakespeare por vezes se chama Agnes, por vezes Anne.  De família humilde e nascida em uma época em que mulheres eram designadas aos trabalhos domésticos, Anne/Agnes, sempre esteve acostumada com o trabalho.


Depois de casada, tanto no período em que moraram na casa dos pais de William, quanto quando foi para sua própria casa, ela cuidou sozinha da criação dos filhos, limpeza, alimentação, cultivo de ervas e vegetais, animais, preparação de pão, manteiga, salgar e defumar carnes — dentre tantas outras tarefas de um período sem supermercados.


Realidade vivida ao longo de toda sua vida como, podemos dizer, mãe solo. Apenas 20 anos depois de completa ausência, Shakespeare, com 47 anos, retorna a sua casa e por lá ficou até sua morte, aos 52 anos.



Hamnet — o romance de Maggie O’Farrell

Diante de toda essa conjuntura, Maggie O’Farrell, decide criar um romance ficcional que devolve o protagonismo à Agnes — esposa e mãe dedicada — que historicamente foi colocada no papel de mulher mais velha que se aproveitou do genial Shakespeare. 


E também, enfatizar a dor da perda trágica de um filho ainda criança, em um período em que o pai e esposo já estavam distantes de casa. Buscando humanizar a parceria entre o casal, para além dos estereótipos que a maioria de seus biógrafos insistem em manter.


Para Maggie, havia ali uma relação à frente do seu tempo, em que apesar de todas as dificuldades, dores e dúvidas causadas pela distância, sobreviveu e superou anos de solidão.


Na obra, conhecemos com detalhes a história de Agnes, sua infância, suas crenças, conexão com a natureza e um dom intuitivo, quase mediúnico, herdado de sua mãe, que sempre foi mal visto.

“Ela cresce se sentido errada, inadequada, morena demais, alta demais, demasiado indomável, demasiado obstinada, calada demais, esquisita demais”. 

Como também conhecemos a infância de Shakespeare — que no livro não tem seu nome mencionado — sua conturbada relação com o pai, que era violento e endividado, o pressionava a seguir o negócio da família — fabricação de luvas.


Quando, por conta de uma dívida contraída pelo pai, Shakespeare é enviado a uma fazenda vizinha para dar aulas de reforço às crianças como forma de pagamento. Lá, conhece Agnes, uma mulher misteriosa e decidida.


Numa narrativa sensível, envolvente e comovente, compreendemos as diversas camadas desde o início dessa relação, que se consolidou e sobreviveu por 34 anos, mesmo com a distância, as perdas e dificuldades no caminho.


Os capítulos intercalam narradores, passado e presente, construindo aos poucos a dramática história da família de Agnes Shakespeare. Mulher e esposa responsável por apoiar e compreender o marido e sua profissão, cuidar dos filhos, viver sozinha um dos piores lutos — o da perda de um filho — cuidar da casa e fazer todos os serviços que isso envolvia.


Mais do que uma história de amor, temos a história de vida de uma mulher forte, autônoma, corajosa, que com garra supera e convive com situações inimagináveis para a época. Mantendo uma espécie de cumplicidade com o homem que escolheu como marido e pai de seus filhos.


Uma relação única, que talvez não consigamos classificar — e nem precisamos — mas que transcende os padrões e expectativas tradicionais. Vale a pena conhecer!


 

Deixo aqui o link para adquirir o livro e ainda ajudar o Raízes: Hamnet, na Amazon.


 
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Obrigada por ler! 🤓

Espero que tenha gostado e se inspirado a ler o livro.

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