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Foto do escritorAdriana Ferreira

Resenha do Livro: Indígenas de Férias, de Thomas King

Atualizado: 5 de jan.

Relato das férias de um casal indígena, em Praga, é recheado de diálogos rabugentos e bem-humorados, que carregam questões existenciais profundas.

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Escritor Thomas King | Foto Trina Koster / The Canadian Press

Um livro com diversas camadas que surpreendem e despertam diferentes emoções.

Ao narrar as férias do casal de descendência indígena, Bird e Mimi, o autor também conta a história dos indígenas norte-americanos, suas tragédias e repressões. Com diálogos ácidos e, ao mesmo tempo, espirituosos, revela o funcionamento de uma mente depressiva e aborda questões sérias de saúde mental, enquanto apresenta a personalidade peculiar de cada um e como enfrentam a vida, com suas alegrias e tristezas.

Um casal de artistas, ela pintora, ele escritor. Duas pessoas sensíveis e conscientes dos seus privilégios e das dificuldades do mundo. Ambos enfrentam questões psicológicas, que no caso de Bird chegam a ser materializados e denominados como "demônios internos". Os longos diálogos entre eles mostram o íntimo dessas questões e a luta constante para superá-las.

"Muitas pessoas abrigam demônios dentro de si. Eu sei que tenho os meus, e meu método para lidar com eles é fingir que eles não existem, deixar esses demônios bem guardados na escuridão".

Talvez pela idade, talvez pela nostalgia da viagem, eles embarcam em questões existenciais repensando suas vidas, escolhas, conquistas, derrotas. Sempre chegando à conclusão de como eram normais, banais e sem nenhuma contribuição significativa para a humanidade. Misturando consciência e frustração diante das suas dificuldades e dos problemas do mundo.

A partir dessas diferenças de personalidade e temperamento, surgirão os melhores diálogos, alguns leves e engraçados, outros bastante profundos e difíceis. Mas todos, por fim, muito amorosos entre um casal que tem uma longa jornada juntos.

A união de perfis tão distintos traz um ar bem-humorado e realista à história, Bird é mais rabugento e cético, apresenta indícios de depressão e outros problemas de saúde. Já Mimi é amorosa e sonhadora, mas bastante controladora e exigente. Enquanto ela quer passear e viver novas experiências, ele quer descansar e voltar o mais rápido possível para casa.

"Passear por prédios antigos não é bem o meu conceito de férias. Claro, existe muita história em lugares como esse, mas a maior parte dela envolve violência gratuita e o caos patrocinado pelo estado".

Mas, mesmo com as rabugices e pressa de voltar pra casa, eles têm uma razão para estar nessa viagem: querem encontrar o tio de Mimi, Leroy Bull Shield, que saiu da sua comunidade há muitos anos para trabalhar ao redor do mundo com um grupo de show de faroeste, levando em sua bagagem a bolsa Crow, um artigo tradicional da família, recheada de objetos de valores sentimentais e históricos.

Desde que se aposentou, o casal resolveu percorrer todos os países dos cartões postais que o tio enviava com a intenção de resgatar a bolsa, e Praga é a última parada dessa busca que já dura anos. Entretanto, fica no ar a ideia de que o tio Leroy Bull Shield e a bolsa Crow sejam apenas folclore familiar e toda essa história não passe de uma desculpa do casal para seguir viajando e vivendo uma aventura investigativa que eles escolheram acreditar.

Independente da razão da viagem, a convivência do casal e sua história de vida acabam sendo o mais interessante no livro. A trajetória pessoal de cada um deles, com suas questões familiares até o momento em que se conhecem e a vida dos dois se une, é muito interessante e envolvente. Como também, os fortes relatos sobre a vida dos indígenas norte-americanos e o que seus antepassados tiveram que enfrentar para sobreviver, mantendo suas tradições vivas também.


Como cada um enfrenta os seus demônios, ao mesmo tempo que dedica cuidado e atenção ao parceiro, oferecendo apoio e compreensão em fases mais difíceis, é lindo e inspirador. Um exemplo de relacionamento, com limites claros, cumplicidade e aceitação.

A descrição dos passeios turísticos realizados pelos personagens em Praga também são muito ricos. Através deles entramos na viagem e sentimos como se estivéssemos visitando a cidade também, ouvindo seus comentários sobre a história do local e como esses pontos turísticos são, por vezes, controversos. Muito interessante!

Esse foi meu primeiro contato com a escrita de Thomas King e eu adorei, de forma leve, ele consegue tratar de assuntos diversos, indo do trivial a temas complexos com agilidade e naturalidade. Recomendo demais a leitura!

Sobre o autor:

Escritor, apresentador, ativista e acadêmico, com dezenas de livros publicados, entre romances, livros infantis e contos. King possui doutorado em inglês na Universidade de Utah, com a tese sobre estudos nativos americanos, um dos primeiros trabalhos a explorar a tradição de contar histórias orais como literatura.

Sua obra mais recente, Indígenas de Férias, foi a primeira publicada no Brasil, pela Tag Livros Curadoria, por indicação de Margaret Atwood, amiga e incentivadora do escritor há muitos anos. Ambos compartilham interesse por questões sociais e ambientais, temas que aparecem também em suas obras. King é um forte crítico de políticas e programas governamentais, tanto nos EUA como no Canadá, que se dizem a favor dos povos de descendência indígena.

 

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Obrigada por ler! 🤓

Espero que tenha gostado e se inspirado a ler o livro.

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