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  • Foto do escritorAdriana Ferreira

Resenha do Livro: O Conto da Aia, de Margaret Atwood

Atualizado: 5 de jan.

Na distopia de Margaret Atwood, após um golpe de estado, os EUA se transformam na República de Gilead. Um governo conduzido pela religião, em que os homens falam em nome de Deus.

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A história distópica de Margaret Atwood foi escrita em 1985 e chegou ao Brasil em 2017 fazendo muito sucesso, junto com a série de mesmo nome. The Handmaid 's Tale, ou o Conto da Aia, apresenta os Estados Unidos da América depois de um golpe de estado. Em que um grupo de extremistas religiosos toma o poder após ataques coordenados, que resultam na morte do presidente, governantes e na suspensão da constituição.


A justificativa do grupo denominado "Os Filhos de Jacó", era de que o país precisava ser salvo de todos os males que o afligiam: corrupção, destruição ambiental e pecados como: igualdade de gênero, liberdade sexual, diversidade cultural, entre outros. E também, de fortes ameaças de guerra por um grupo terrorista. O novo governo, portanto, faria dos EUA um lugar melhor.

"Melhor nunca significa melhor pra todo mundo, diz ele. Sempre significa pior, para alguns".

Tudo aconteceu de forma tão rápida e inesperada que a população ficou atônita, sem capacidade de reação imediata. Mesmo os que vinham percebendo algumas mudanças e intervenções, não imaginava que chegaria a esse ponto. Fazia algum tempo que a violência nas ruas havia aumentado, algumas personalidades importantes eram encontradas mortas sem razão aparente, mas tudo não passava de notícia no jornal. Parecia tudo tão distante…


E de repente, estavam ali sob um novo governo, que alegava estar protegendo o povo e logo convocaria novas eleições e tudo voltaria ao normal. Era tudo provisório… Entretanto, tudo foi ficando muito diferente, muito rapidamente. Mulheres perdem seus empregos, seu dinheiro vai para os maridos ou homens da família, fronteiras são fechadas, jornais censurados. Qualquer tipo de manifestação era fortemente retalhada e o exército estava nas ruas.


E assim, a República de Gilead foi instaurada. Não havia como nem pra onde correr, um novo tempo começava e ninguém conseguiria imaginar os rumos que o país levaria.

"Existe mais de um tipo de liberdade, dizia tia Lydia. Liberdade para, a faculdade de fazer ou não fazer qualquer coisa, e liberdade de, que significa estar livre de alguma coisa. Nos tempos da anarquia, era liberdade para. Agora a vocês está sendo concedida a liberdade de".

O governo transformou crenças religiosas em ordem e escritos bíblicos (bem distorcidos) em leis. Iniciou uma guerra sem fim, para manter o clima de ameaça e caos interno. E decretou uma nova forma de vida para todos os cidadãos, como forma de resolver os problemas do país: separação de classes por identificação de roupas, onde cada "tipo de pessoa" usava um "tipo e cor de roupa"; fim de marcas e diversos estabelecimentos, agora não havia diversidade e os comércios eram apenas "loja de carnes", "loja de pães", etc; carros eram permitidos apenas para um seleto grupo, o que diminuiu o trânsito e a poluição; livros, revistas, internet e programas de TV, rádio, tudo censurado e com acesso limitado, para garantir que os conteúdos divulgados fossem apenas os permitidos pelo governo.


Mas, o mais impactante na nova República é a solução dada pelo governo para resolver a queda da natalidade e consequentemente a redução da população. Eles determinaram que as mulheres férteis, deveriam servir a Deus, logo ao governo, se tornando uma espécie de mães de aluguel para famílias dos comandantes do país que não podiam ter filhos. O motivo da esterilidade é um tema que não tem uma explicação definitiva no livro, se fala em lixo tóxico, excesso de poluição, consumo excessivo de químicos e agrotóxicos que estariam prejudicando a fertilidade e, em alguns casos, causando gestações de bebês com deficiência ou natimortos.


As mulheres escolhidas para desempenhar esse papel eram chamadas Aias, daí o nome do livro. Elas eram afastadas de sua família e obrigadas a servir, gerando filhos de forma natural e forçada com os comandantes. Depois do nascimento desses filhos, eram obrigadas a entregá-los às esposas dos comandantes, que seriam as mães dos bebês. Tudo em nome de Deus e uma religião inventada por homens que ditavam as regras.


O livro vai detalhar a vida nesse novo contexto, desde o treinamento que as Aias recebem para desempenhar seu papel como as reprodutoras do país, até todos os rituais e novas regras bizarras existentes nesse novo mundo. Com relatos muito fortes de violência, abuso físico e psicológico, mutilações e estupros. Tudo narrado por uma Aia, chamada Offred, protagonista da história.

"O costumeiro, dizia Tia Lydia, é aquilo a que vocês estão habituadas. Isso pode não parecer costumeiro para vocês agora, mas depois de algum tempo será. Irá se tornar costumeiro".

Com um relato em primeira pessoa, muito realista e detalhista, Offred coloca o leitor dentro dessa nova realidade, acompanhando com ela o seu dia a dia. Entre relatos do seu presente em Gilead e lembranças de seu passado, sua família e amigos, vamos compreendendo as mudanças que aconteceram na sociedade.


A história vai discorrendo, mostrando a relação dela com a família em que mora como Aia, os funcionários e as outras Aias. O que faz para sobreviver, as coisas que vai descobrindo, pessoas a quem vai se aliando. Entre amigos, suspeitos, dores, amores e muita angústia a história de Offred se desenrola. Até um final surpreendente e ao mesmo tempo, aberto para interpretações.



A dor e a revolta da Aia ao longo do texto são evidentes, como também como as pessoas com poder conseguem manipular e comandar a população inteira, na base do medo e repressão. Assustador também, como grande parte das pessoas se submete a nova realidade, conseguindo inclusive ver vantagens na nova forma de vida. De certa maneira, os absurdos cometidos em nome de Deus são compreendidos e há quem acredite que esse era o destino esperado para eles.


Parece loucura, mas se refletirmos sobre governos totalitários ao longo da história, saberemos o quanto a existência da República de Gilead é possível. Como um discurso bem elaborado, acompanhado das regras certas, pode dominar um povo que em algum momento é capaz até de legitimar tal tipo de governo. Lembrando de catástrofes como o Nazismo e toda a narrativa que a ditadura de Hitler construiu para as milhares e milhares de pessoas que o apoiavam, fica fácil imaginar como a distopia de Atwood não é improvável.

"A humanidade é tão adaptável, diria minha mãe. É verdadeiramente espantoso as coisas com que as pessoas conseguem se habituar, desde que existam algumas compensações".

Lembrei inclusive de outro livro que li chamado Ele está de volta, de Timur Vermes, uma ficção que imagina Hitler aparecendo na sociedade do século XXI. Seria cômico se não fosse trágico, o quão fácil ele consegue conquistar com sua retórica e mobilizar novamente muitas pessoas. Pessoas essas, que se diziam bem informadas, politizadas, cultas e acreditavam na liberdade. Outro exemplo, para entender esse tipo de dominação é o filme A Onda, do diretor ​​Dennis Gansel, lançado em 2009 no Brasil. No enredo um professor, sem avisar, começa a instalar um regime totalitário em suas aulas e muito rapidamente os alunos estão vivendo sob essas regras, sem questionar.


Com um poder de adaptação gigantesco e uma extrema vontade de pertencer a algo ou algum grupo, o ser humano consegue aceitar e viver sob condições inicialmente impensáveis. Principalmente se esse processo de mudança for lento e apresentar justificativas minimamente razoáveis. Por isso, ler distopias, com enredos que abordam questões sociais e políticas, pode nos fazer refletir sobre cenários, a priori absurdos. Mas que na verdade, seriam factíveis se embasados em um belo discurso.


Distopia é um dos meus gêneros favoritos, justamente porque imaginar cenários improváveis expande a consciência para os cenários possíveis. Sem dúvida, além do entretenimento, esses textos servem pelo menos para nos deixar atentos e relacionar a distopia aos acontecimentos e as transformações, cada vez mais rápidas em nossa sociedade. Quem sabe o que nos aguarda?

 

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Livro O Conto da Aia
 
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Obrigada por ler! 🤓

Espero que tenha gostado e se inspirado a ler o livro.

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