Ao retornar para a cidade onde nasceu, Diogo Santiago, revive seu passado preenchendo lacunas, como um mapeador de ausências.
Confira a resenha do livro O Mapeador de Ausências, de Mia Couto, publicado pela Companhia das Letras em 2021.
Uma caixa de memórias e documentos oficiais de um período ditatorial conduzem a ida de Diogo Santiago — um respeitado professor e escritor moçambicano — à sua cidade natal: Beira. Uma visita ao passado, marcada por muitas lembranças, descobertas e a passagem de um ciclone.
“O meu médico disse que esta visita me apaziguaria as memórias. Falta-me fazer o luto dos meus pais”.
O livro é estruturado entre o presente, narrado por Diogo, e o passado, narrado pelas transcrições de documentos oficiais militares e o diário de Adriano Santiago, pai de Diogo já falecido, ambos presentes nessa caixa misteriosa que recebe assim que chega na cidade.
E assim vamos acompanhando o protagonista reviver acontecimentos muito marcantes, de uma infância dolorosa em uma cidade em guerra, com uma polarização extrema onde o medo e a repressão tomavam conta. Com muitas histórias de família, amigos e vizinhança, crenças e convicções políticas, preconceitos, racismo, amores e traições, medo e insegurança.
“…, sofro de um excesso de passado. Quero livrar-me desse tempo que não me deixa existir”.
É muito emocionante como ele vai redescobrindo sua história e preenche as lacunas que não o permitiam compreender certas atitudes de sua família. O reencontro com algumas pessoas do passado também vão servir para ressignificar sentimentos e ajudá-lo a fazer as pazes com sua própria consciência.
“É a vida que cria poeira, inspetor, e é por isso que eu deixo que se acumule uma camadinha de pó nos móveis. Demasiado limpos parecem mortos”.
Além do enredo emocionante, cheio de tramas e reviravoltas, é rica a experiência de conhecer, através do livro, o contexto social, a história e a cultura de Moçambique. Um povo marcado pelas consequências da guerra e ditadura, mas ainda muito resiliente e espiritualizado, que luta para que seu passado seja conhecido e honrado pelas novas gerações.
Realidade e Ficção
A obra não é uma autobiografia, mas Mia Couto deixa claro que é baseada em personagens e acontecimentos reais. Seu pai foi um jornalista e poeta português que, assim como o protagonista Diogo Santiago, recebeu provas de um massacre realizado por militares portugueses em Moçambique em 1973.
O ciclone que devasta a cidade de Beira, em 2019, ano em que a história se passa, também é real. Inclusive, nesse ano o autor iria à cidade realizar algumas pesquisas para um próximo livro, mas foi impedido devido ao fenômeno natural.
Fazer as pazes com o passado para poder seguir em frente
Em meio a tantos fatos históricos e denúncias de períodos ditatoriais, refletimos o impacto do contexto social e político na existência individual. Como cada um compreende e consegue conviver com a guerra e suas consequências, humaniza os dados noticiados pela TV e nos mostra um lado muito mais profundo e complexo de escolhas ideológicas.
Revelando como traumas, crimes, abandonos e violências impactam gerações inteiras. E, portanto, conhecer a própria história, pode ser libertador e cessar o impacto desses traumas, ao permitir virar a página e escrever uma nova história.
Recomendo muito a leitura dessa história emocionante que nos faz refletir sobre o passado, mas com olhar esperançoso para o futuro.
Deixo aqui o link para adquirir o livro e ainda ajudar o Raízes: O mapeador de ausências, na Amazon. Aqui seleção de obras do autor publicadas no Brasil.
Veja também a Entrevista do autor para a editora Companhia das Letras, no lançamento do livro.
Obrigada por ler! 🤓
Espero que tenha gostado e se inspirado a ler o livro.
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Nos vemos no próximo texto 🥰
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