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  • Foto do escritorAdriana Ferreira

Resenha do Livro: O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry

Atualizado: 21 de dez. de 2023

A obra, que celebra 80 anos em 2023 e passa de 250 traduções ao redor do mundo, ainda é cercada por controvérsias entre os que amam e os que odeiam.

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Confira a resenha do Livro: O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, lançado em 1943. Para essa resenha foi lida a tradução de Frei Betto com publicação da Geração Editorial, 2015.


Considerado livro infantil, foi piada quando candidatas a miss e artistas populares o citavam como seu livro preferido. Também já virou meme, foi taxado brega, classificado como autoajuda e teve trechos — como esse “Você é eternamente responsável por aquilo que cativas” — usados fora de contexto para mostrar que o livro passa uma mensagem tóxica.


Seria O Pequeno Príncipe, um dos clássicos mais traduzidos e lidos em todo mundo, um livro polêmico?


Para mim, infelizmente, grande parte dessas alegações baseiam-se em frases soltas, a partir de trechos que ficaram famosos e são analisados fora de contexto. E também, por uma carga de preconceito por tudo que já envolveu a obra ao longo de sua história.


Contudo, O Pequeno Príncipe, em seu texto original, não me parece um livro infantil, apesar de ser ilustrado e ter uma criança como personagem principal.


A história é densa, repleta de metáforas, analogias, ironias e críticas. Que pelo olhar puro do protagonista escancara como as crenças e comportamentos do adulto o fazem vagar pelo mundo, motivado por interesses questionáveis.


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Origem do Pequeno Príncipe

Lançado em abril de 1943, em Nova York, O Pequeno Príncipe foi a última obra completa publicada por Antoine de Saint-Exupéry em vida. Nessa época o aviador e escritor já havia lançado quatro livros — Correio Sul (1929), Voo Noturno, Terra dos Homens (1939), Pilotos de Guerra (1942) — alguns premiados e adaptados para o cinema. E todos inspirados em experiências próprias, propondo reflexões sobre a existência humana.


Escrito em um dos períodos mais sombrios da humanidade, instaurados pelo totalitarismo e a Segunda Guerra Mundial, o texto de O Pequeno Príncipe nasceu com uma mensagem importante a ser passada. Os adultos precisam resgatar sua criança interior.


Seu autor, estava exilado em Nova York após o lançamento do livro Pilotos de Guerra, romance sobre o fim da civilização pelo totalitarismo. E durante uma conversa com seu editor Eugène Reynal (editora Reynal & Hitchcock), Saint-Exupéry desenha em um papel um menino de cabelos loiros.


Questionado sobre o desenho, ele respondeu: “É apenas o garoto que existe em meu coração” (texto de Leoclícia Alves na edição de 2015, da Geração Editorial). O editor o encoraja a transformar o menino em protagonista de uma história infantil e Saint-Exupéry aceita.


Aluga uma casa em Long Island onde passa o verão de 1942 com sua esposa — meses após reatar seu casamento — e amigos. Lá ele escreve e ilustra sua mais nova história: O Pequeno Príncipe.


Seus amigos, que frequentavam a casa, e um acidente de avião sofrido anos antes em que ficou 4 dias perdido no deserto, serviram de inspiração para acontecimentos e personagens da narrativa. E o adulto a quem dedica o livro, Léon Werth, é um amigo judeu, que ficou na França sofrendo as consequências da guerra.

“Peço perdão às crianças por dedicar este livro a um adulto. Tenho uma boa razão: esse adulto é meu melhor amigo no mundo”.

Um ano depois do lançamento, Saint-Exupéry, volta à França e presta novamente serviço militar na guerra. Em uma missão ele tem seu avião abatido e morre precocemente, sem saber do sucesso que seu pequeno príncipe alcançaria.


A obra se tornou um clássico, sendo o livro mais lido e traduzido no mundo todo, depois da Bíblia. Com mais de 250 traduções, as brasileiras mais conhecidas são as de Mário Quintana, Ferreira Gullar e Frei Betto. Também já foi adaptado para filmes, teatro, exposições e diversos produtos culturais, principalmente após entrar em domínio público.


Aqui compartilho as minhas edições:



Por que se tornou um sucesso?


Quanta profundidade e ímpeto cabem nos questionamentos de uma criança? Talvez aí estejam as razões do impacto desse texto.


Ao decidir sair do seu planeta, desiludido com o amor, o Pequeno Príncipe decide visitar outros planetas para se distrair e conhecer novas formas de vida. Apesar de ser a parte menos comentada sobre o livro, para mim, é nela que moram as principais provocações da história.


Em cada local que chega, com toda a inocência de uma criança que nada sabe daquele mundo, o Pequeno Príncipe desata a fazer perguntas: O que é isso? Por que você faz isso? Como isso funciona? Mas por quê?

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Travando diálogos de forma sagaz e irônica, com questões que escancaram a mediocridade da existência dos adultos. Com todas as suas certezas, regras, poderes e interesses sem sentido, eles explicam orgulhosos para o jovem príncipe como vivem.


Sem conseguir compreender os diferentes modos de vida, o principezinho apenas sacode a cabeça, sorri e vai embora dizendo: “Os adultos são mesmo estranhos…”.


O último planeta que visita é a Terra, o maior e mais povoado de todos. Ele pousa na África e começa a procurar alguém pra conversar… E assim, começa a parte mais conhecida do livro.


As relações do Pequeno Príncipe


Todas as amizades que o Pequeno Príncipe faz ao longo da história, carregam um significado e nos ensinam mais do que a primeira camada mostra.


Comecemos com a rosa, seu primeiro amor. Ela, uma jovem, um tanto mimada e exigente que demanda de seu pretende total devoção. Ele, por sua vez, inexperiente e apaixonado, cede a todos os pedidos e vai além dos seus limites.


E como em qualquer relação em desequilíbrio, mágoas e frustrações começam a aparecer.

“Como as flores são complicadas! Mas eu era ainda muito jovem para saber amá-la”, Pequeno Príncipe, sobre sua rosa.

Dois jovens imaturos, com personalidades distintas e que mesmo se amando, se machucam por não saberem lidar com a complexidade de uma relação. Tanto, que a solução encontrada pelo príncipe é a fuga, decidindo ir embora do seu planeta — como um adolescente rebelde.


Desiludido e pensando ter sido enganado por ela, vai se despedir. Ela, reconhecendo o momento decisivo, revela: “Sabe que amo você? — confessou a flor — Se nunca percebeu, a culpa é minha. Mas não tem nenhuma importância, você é tão bobo quanto eu. Quero que seja feliz… Largue essa redoma, não preciso mais dela”.


E assim, a rosa, mesmo jovem, revela com segurança o seu amor, as suas falhas e liberta seu amado. Uma lição sobre o amadurecer.


Ele vai embora e depois de viajar por vários planetas chega à Terra, onde faz novas amizades. Uma delas é com a raposa, que muito sábia lhe ensina o que ele, inexperiente, ainda não sabia sobre o amor.

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Ele ao vê-la se admira e quer ser seu amigo, mas a raposa cautelosa explica: primeiro você tem que me cativar. Afinal, como na vida, um sentimento como amizade não nasce instantaneamente, é preciso conquistá-lo.


Paciente, a raposa lhe explica como cativá-la e ao viver essa experiência didática ele torna-se finalmente amigo da raposa. Assim, além de ganhar uma amiga, ele entende sua relação com a rosa.


Compreende que ela não mentiu ao afirmar que era única no mundo. O tempo, o cuidado, o carinho e tudo mais que ele dedicou a ela, foi o que a tornou especial. Uma passagem simples e muito bonita, de um jovem aprendendo sobre um sentimento tão complexo como o amor.


Da mesma forma, aprendemos com ele sobre a esperança, essa crença invisível de que as coisas vão dar certo. Aquilo que alguns também chamam de fé. Perdido há dias no deserto, com pouca água e sem condições de consertar seu avião, o aviador encontra o Pequeno Príncipe.


Diante de seu dilema, o homem sabe qual será o seu fim. Mas é da inocência do seu jovem amigo, que vinham sua calma e esperança. Só alguém como ele, sem nenhuma ideia de como funciona o mundo, poderia acreditar ser possível sair daquela situação com vida.


Me pergunto sempre, se o aviador, que é também narrador de toda a história, não viveu uma miragem em meio ao deserto, encontrando sua própria criança interior na imagem do Pequeno Príncipe. Quem sabe?


Fato é que essa amizade, mostrou ao aviador, que enfrentava a maior das dificuldades, como ver a vida de forma leve e esperançosa mais uma vez. Ele pode rir diante dos problemas, aprender e acreditar que as coisas iriam se resolver. Se não fosse verdade, pelo menos tornaria o processo menos pesado e doloroso.


Um final triste, mas inevitável


Um ano após ter saído de seu planeta, o pequeno príncipe, havia aprendido muita coisa sobre os outros mundos. Mas, principalmente sobre ele mesmo, seus sentimentos e motivações e queria reencontrar sua rosa.


Seu retorno, porém, não foi mágico — ou foi se nessa altura da história já tivermos aprendido algo com o príncipe. Quem volta não é seu corpo físico, mas sua alma, seu espírito, sua mente ou qualquer outro nome que queiram dar.


Para isso, encontra uma cobra venenosa e combina o dia e local em que ela o ajudará a partir. Um dos momentos mais emocionantes da história, em que colocamos à prova nossa razão adulta e invocamos a visão mais pura e mágica do principezinho.

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“Entenda-me: é muito distante. Não posso levar este corpo. Pesa demais”.

Para falar sobre morte e luto, ele deixa tudo mais simples e leve. Explicando que ver um corpo morrer é triste, mas ilusório: “Será como uma velha concha abandonada. Não há nada de triste nas velhas conchas…”. Fala sobre não sofrer com sua morte, mas acreditar que ele vive, que voltou para seu planeta e reencontrou sua rosa.


Mônica Cristina Corrêa, uma especialista na obra de Saint-Exupéry no Brasil, conta que os editores do livro não queriam aprovar a morte do protagonista no final, por ir contra ao esperado final feliz.

Mas, o autor defendeu que tudo que fosse tratado com naturalidade, seria compreendido pelas crianças. Ele mesmo havia perdido o pai e um irmão quando criança, e vivia naquele momento as dores de uma guerra. Ele via a morte como natural e a única certeza dos humanos.

“Os adultos nunca conseguem compreender nada sozinhos, e é cansativo para as crianças ter sempre que explicar as coisas para eles”.

Seus argumentos permitiram que o final não fosse alterado e que seu livro se tornasse único. Sem final feliz, para um olhar óbvio e superficial de um adulto. Mas, com um final lindo e mágico, se observado com a pureza e imaginação do Pequeno Príncipe.

“E quando estiver conformado (as pessoas se conformam sempre), ficará contente por ter me conhecido. Você será sempre meu amigo. Terá vontade de rir comigo. E abrirá a janela por este simples prazer… E seus amigos ficarão surpresos ao vê-lo sorrir ao olhar para o céu. Então, dirá a eles: ‘Sim, as estrelas me fazem rir!’. Eles pensarão que você enlouqueceu. É um segredo que fica entre nós”.
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Esse livro nos lembra da criança que fomos e que abandonamos ao nos tornarmos adultos. Como ficamos chatos, sem imaginação, sem leveza e com dificuldade de acreditar.


Lê-lo de tempos em tempos é um ritual de resgate da nossa pureza, esperança e olhar infantil. Como se pudéssemos tornar possível o impossível, compreender sentimentos e relações complexas, e tornar a maior dor de todas, como a morte, em um acontecimento poético e indolor.


Claro que enquanto adultos, com consciência da dura realidade que vivemos, acharemos toda essa história impossível, boba e sem sentido. Mas para sobreviver nesse mundo louco e sem salvação, precisamos às vezes nos iludir, buscar na arte — e na criança que já fomos — alguma esperança de seguir em frente.


 

Deixo aqui o link para adquirir o livro e ainda ajudar o Raízes: O Pequeno Príncipe, na Amazon.


Outras obras de Antoine de Saint-Exupéry:

 
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Obrigada por ler! 🤓

Espero que tenha gostado e se inspirado a ler o livro.

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Nos vemos no próximo texto 🥰



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