Numa cidade na qual as relações pessoais se baseiam na confiança e os julgamentos na reputação da família, um psicótico assassino fica livre de suspeitas.
Confira a Resenha do Livro: Psicose, de Robert Bloch, traduzido por Anabela Paiva e publicado pela Darkside em 2013.
Quem desconfiaria de um homem, de meia-idade, tímido, introspectivo, órfão de pai e mãe, que não faz nada da vida além de cuidar sozinho do hotel herdado da família?
Aos 40 anos, sem ter casado, Norman Bates, vivia sozinho, era extremamente pacato, mal saia de casa, não recebia visitas e não arranjava problemas com ninguém. Todos o conheciam pela maneira trágica que sua mãe morreu quando ele ainda era adolescente.
O que ninguém sabia era que o pobre homem solitário, era, na verdade, um psicótico, não diagnosticado, que em meio a alucinações e sua dupla personalidade — criada após a morte de sua mãe — cometia crimes e assassinatos sem levantar suspeitas.
Um clássico do suspense do genial Robert Bloch que nos prende até a última página.
“Todos nós somos um pouco loucos de vez em quando”.
E se fosse verdade?
Analisando profundamente essa história, para além do suspense, terror e mortes a sangue-frio, encontramos questões sérias e dramáticas sobre saúde mental.
Ao narrar sua vida desde a infância, Norman Bates, se revela vítima de sua criação.
Em uma família desestruturada, em que o pai abandona a mãe quando ele ainda era pequeno, e ela, amargurada, passa a falar mal de todos os homens, Norman foi impossibilitado de ter boas referências masculinas.
Criado de forma rígida e sob a superproteção da mãe, recebe ensinamentos baseados em preceitos religiosos, no qual todo erro é pecado e precisa de punição, fazendo do medo e da insegurança o fundamento da sua infância.
Na adolescência, período em que descobria seus desejos, seu corpo se transformava e as dúvidas surgiam, a mãe o censurava. Sem referência paterna, e sempre ouvindo a mãe difamar todos os homens, Norman extremamente confuso, não se reconhecia naquele corpo.
Já mais velho, quando sua mãe começa um novo relacionamento com um homem, ele fica transtornado. Se todos os homens não prestam, o que ela estava fazendo com um?
Raiva, ciúme, ressentimento e sem uma boa estrutura psicológica, acabam revelando algo muito profundo na mente de Norman. E a partir daí, começam suas alucinações, múltiplas personalidades e uma completa distorção da realidade, que o levam ao seu primeiro e mais importante crime. Aquele que desencadearia todos os outros.
É nessa sequência de traumas e questões emocionais não tratadas e superadas que esse drama policial se torna possível. Tendo como agravante, o fato de morarem em cidade pequena onde as relações se baseiam na confiança e os julgamentos na reputação da família.
Possibilitando que apenas as aparências determinassem os suspeitos e investigações não seguissem adiante por questões de confiança pessoal. Não parece um tanto verissímil?
Experiência de leitura
Uma história forte, em que os fatos vão se revelando aos poucos e o leitor, se torna também um investigador montando o quebra-cabeça, até que por fim tudo se esclarece de forma surpreendente.
Eu já havia assistido ao filme há muitos anos, e ao ler o livro, senti o mesmo suspense e interesse em desvendar o mistério. Pois, mesmo já conhecendo o final, os detalhes e ritmo dados pela escrita do autor, proporcionam uma nova experiência com Psicose.
Ficamos envolvidos, presos naquela cidade pequena e pacata, esperando a cada página o próximo movimento de Norman.
Se você ainda não leu o livro e só conhece a história pelas adaptações cinematográficas ou pela série spin-off, recomendo muito que conheça o texto original. Sem dúvidas o livro que ganhou de Alfred Hitchcock, ganhará você também.
Sobre o autor e Origem da Obra
Robert Bloch (1917 – 1994) escritor do gênero de terror e suspense, começou a escrever aos 17 anos. Foi o membro mais jovem do Lovecraft Circle, círculo de amigos do escritor H. P. Lovecraft, uma referência importante do gênero.
Após alguns anos escrevendo sobre temas sobrenaturais, ele se interessa por histórias reais de assassinatos e psicopatas, como inspiração para seus textos. E é dessa forma que encontra o caso Ed Gein, ocorrido nos EUA na década de 50, que inspira o livro Psicose.
Com uma criação parecida com a de Norman Bates, Eddie Gein também tem uma obsessão por sua mãe e questões de gênero mal resolvidas. Porém, quando a sua mãe morre — diferente do livro — ele não a desenterra, mas passa a desenterrar cadáveres parecidos com ela… Uma história real e bizarra, com mais detalhes aqui. O caso também é narrado no livro Serial Killers — Anatomia do Mal e em sua biografia Did You Hear What Eddie Gein Done?, ambos do autor Harold Schrechter.
Adaptação por Alfred Hitchcock
O livro Psicose foi lançado em 1959, sem muito sucesso.
Mas, tudo muda quando, pelas mãos de um assistente, a obra chega às mãos do cineasta Alfred Hitchcock, que lê o livro, gosta muito e decide comprar os direitos para fazer sua adaptação.
Na época, ele mandou comprar todos os livros publicados para manter o efeito surpresa da história que ele contaria nos cinemas. O roteiro do filme é de Joseph Stefano e é bastante fiel ao texto original, com pequenas alterações.
O filme foi indicado ao Oscar, em 1961, nas categorias de melhor atriz coadjuvante (Janet Leigh), melhor fotografia, melhor direção de arte e melhor direção (Alfred Hitchcock), mas não levou nenhuma estatueta para casa. No mesmo ano, a atriz Janet Leigh ganha o Globo de Ouro, como melhor atriz coadjuvante no filme.
Tendo como destaque a cena icônica do chuveiro, o grito, o sangue e aquela trilha de arrepiar… O filme é considerado um clássico de referência no gênero de horror e suspense.
Deixo aqui o link para adquirir o livro e ainda ajudar o Raízes: Psicose, de Robert Bloch, na Amazon.
Saiba mais:
Documentário sobre Alfred Hitchcock, produzido pela BBC disponível no YouTube. Para conhecer mais sobre o diretor os bastidores do seu trabalho, inclusive Psicose.
Série Bates Motel, um spin-off de Psicose, disponível no streaming Globoplay.
Obrigada por ler! 🤓
Espero que tenha gostado e se inspirado a ler o livro.
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Nos vemos no próximo texto 🥰