Livro conta a origem da bebida milenar que conquistou e influenciou diversas sociedades e economias ao redor do mundo.
Confira a resenha do livro Viagem ao mundo do chá, de Ina Gracindo e publicado pela Leya Brasil em 2013.
Para quem gosta de chá e tem curiosidade de aprender um pouco mais sobre, o livro Viagem ao mundo do chá fala da origem, costumes e cultura em torno da bebida. Além de apresentar uma contextualização sócio-histórica dos locais onde ela surgiu e se popularizou, dando a dimensão do que o chá significou em diferentes épocas para diversas populações.
Com um texto agradável e cheio de referências, a obra descreve os diferentes rituais que envolvem a bebida até hoje e conta como ela se espalhou pelo mundo, impactando a economia e o comportamento social. Uma leitura muito interessante sobre essa, a qual é uma das bebidas mais consumidas ao redor do mundo, perdendo só para a água.
Narrado por Ina Gracindo, o livro é fruto de pesquisas e vivências da escritora no período em que foi comissária de bordo. Ao rodar o mundo a trabalho, ela conheceu diversas culturas e se impressionou com a importância do chá, principalmente na Inglaterra, e decidiu estudá-lo mais a fundo.
“Tao é o caminho, Te a virtude”
O que é chá?
Apesar de chamarmos qualquer infusão botânica de chá, tecnicamente, o chá é apenas o que vem da planta Camellia sinensis, que pode, conforme o tipo de processamento, resultar em uma das famílias de chá existentes: o chá-verde, chá branco, chá amarelo, chá-preto, chá oolong e Pu'er. Portanto, a camomila, a erva-cidreira e outras tantas plantas que estamos acostumados a chamar chá, são, na verdade, infusões.
E Ina começa nos contando justamente sobre a história da planta do chá, a Camellia sinensis. Sabe-se que essa planta surgiu na China, com primeiros registros em 2016 a.C., sendo muito usada como medicamento. Lu Yu foi o primeiro e maior estudioso da planta, também responsável por disseminar seu consumo.
Inicialmente, os mais interessados na bebida foram os monges, devido suas propriedades que ajudam a manter o foco para longas práticas meditativas. Gradualmente a bebida é descoberta pelos aristocratas e ganha status e valor de mercado, se tornando um interessante produto e assim, as exportações começam.
Há muitas incertezas sobre como aconteceu, mas o chá de fato se espalhou pelo velho mundo, com destaque para o Japão, Índia e Inglaterra. Por onde chegava, se tornava uma importante fonte de empregos, impactando a economia e moldando comportamentos. Uma das tradições mais conhecidas acerca disso é o chá da tarde ou chá das cinco, criado na era Vitoriana.
“Ritualístico por natureza, implantou um modismo que se tornou tradição na Europa da rainha Vitória, o afternoon tea, que foi responsável por uma mudança radical nos hábitos britânicos e revolucionou não apenas a indústria alimentícia, mas, a de utensílios, mobiliários e de entretenimentos, mas também as cozinhas das moradias e as próprias moradias; mexeu no número de empregados e de uma casa e, claro, na economia doméstica e nacional”.
Houve um processo distinto e bastante curioso em cada país em que o chá chegou para que fosse adotado como um hábito em cada cultura. Nesse caminho também desenvolveram-se simbologias e rituais, envolvendo tipos específicos utensílios utilizados para o preparo da bebida, assim como as diferentes formas de preparo e consumo em cada continente.
Um exemplo é a ligação do chá ao Taoísmo e a cerimônia do chá, que mais do que um simples preparo do chá, representa uma filosofia de vida.
“Quando o chá representa mais do que uma bebida e a cerimônia é absorvida e praticada de forma a promover a harmonia entre a humanidade e a natureza, a disciplina da mente e a quietude do coração, a arte do chá torna-se chaísmo”
O Chá no Brasil
Sobre o consumo de chá no Brasil, o livro conta que a bebida chegou através da família Real por volta de 1800 e houve até uma tentativa de produção local, no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Entretanto, a investida não teve sucesso e o projeto foi posto de lado.
Porém, há uma parte bastante relevante da história do chá aqui no país, que não está no livro, mas vale ser mencionada: muitos anos depois da monarquia, imigrantes japoneses que se instalaram na região de Registro, em São Paulo por volta de 1920, apostaram na produção da Camellia sinensis.
Durante muitos anos inclusive viveram uma época de muito sucesso, com mais de 40 produtores exportando o produto brasileiro para diversos países, tornando Registro a Capital do Chá no Brasil. Entretanto, com a crescente do café e crises econômicas enfrentadas no país pelos anos 90, o mercado de chá estagnou e por um tempo, essas famílias precisaram se reinventar.
A busca recente das pessoas por uma vida mais saudável, consumindo alimentos mais naturais, fez o mercado de chá voltar a crescer. Além de aumentar o consumo da bebida, muitos empreendimentos surgiram, assim como novas profissões na área. Atualmente, há três produtores nacionais e uma filial de marca japonesa instalada no Brasil, todos em Registro ou região.
Portanto, o chá também conquistou seu espaço no país, fazendo parte da cultura e dos hábitos de muitos brasileiros, seja no consumo ou na profissão. Formando um mercado que segue expandindo e conquistando novos adeptos a cada dia.
Leitura leve e interessante, que ao final ainda nos presenteia com diversas receitas utilizando o chá como ingrediente ou de pratos que harmonizam bem com o chá. Um convite irresistível para adentrar ao mundo do chá.
Deixo aqui o link para adquirir o livro e ainda ajudar o Raízes: Viagem ao mundo do chá: Tao Te Cha.
Conteúdos para quem se interessou pelo tema e pela autora:
Entrevista com Ina Gracindo para a GloboNews, na época do lançamento do livro. Vale assistir para compreender o processo de criação do livro e também ver a própria autora explicar alguns conceitos do livro.
Gosto muito de chá e estudo sobre ele há alguns anos. Aos poucos vou trazendo aqui mais conteúdo sobre esse tema. Mas, para quem também gosta e quer se aprofundar no tema recomendo muito a Escola de Chá Embahú, da qual sou aluna!
Obrigada por ler! 🤓
Espero que tenha gostado e se inspirado a ler o livro.
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Nos vemos no próximo texto 🥰
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